Televisão ligada, mas ela mal olhava.
Descobrí que ela estava com uma senhora que veio traze-la ao médico.
De repente, essa senhora saiu e disse para ela que já voltava.
Ela acenou, sim, com a cabeça, continuou cabisbaixa.
Eu, ali na sua frente pensando...Essa senhora é tão triste, carrega alguma tristeza....
Continuei olhando-a disfarçadamente, eu estava de óculos escuros.
A enfermeira chamou o nome dela e o meu.
Fomos lá para dentro aguardar.
Eu aproveitei, e puxei conversa.
Ela me olhava, e perguntava, será que vai demorar muito, estou com medo, minha amiga saiu e fiquei sózinha.
Eu disse:-A senhora não está sózinha, tem eu aqui do seu lado, fique tranquila.
A enfermeira chamou-a, ela foi, fez exame, e voltou e sentou.
Em seguida eu fui.
Quando saí fiquei ali ao lado dela e perguntei:-A senhora, me desculpe, mas tem alguma tristeza na sua vida?
Ela disse que tinha uma filha, casada com um drogado e que apanhava do marido e morava nos fundos do quintal dela.
Tinha um marido que bebia.
Tinha um filho que se drogava.
E ela trabalhava na casa de dois rapazes na Cocaia.
Disse-me que era cega de um olho e o outro enxergava anuviado.
Eu perguntei como ela ia para o serviço.
Ela me disse:- A pé, ida e volta.
Que só ela trabalhava na casa dela.
Disse que os garfos da casa dela eram tortos, que o filho segurava com os garfos dela uma certa droga.
Eu disse a senhora confia em Deus?
Ela, me disse:-Muito, por isso vou e volto da Cocaia enxergando tão pouco, é Deus que está do meu lado.
Terminamos nosso papo, fui com ela segurando o meu braço até a amiga dela, e pedí seu endereço.
Mora pela Agua Branca.
Dei um beijão nela, e disse até logo.
É claro que antes do Natal irei na casa dela ajuda-la um pouquinho...
Ela é conhecida na ilha, pelo seu apelido.
Gostei muito dela.
Ane
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