sábado, 2 de fevereiro de 2013

O TEATRO - CONTO ESCRITO POR ANE.

Ela entrou no teatro e estava tudo escuro. Ela procurou fósforo em sua bolsa.  Achou, riscou o primeiro, apagou riscou o segundo, viu um toco de vela. Pegou-a e o fósforo apagou. Ela demorou mas conseguiu acender a vela.
Havia um vento vindo de algum lugar... De onde poderia ser?

Tropeçou em um móvel velho, que estava sujo a muito tempo. De quanto tempo seria? 40 anos? 50 anos?  Tinha pó demais no teatro.
Toco da vela acabando. Precisava achar outra vela por ali...

Achou um livro, velho sujo, abriu-o estava datado de l948! Tentou passar a mão por cima para ler o título. Lua cósmica o nome do livro.
Quem leria um livro desses naquela época???

Deixou o livro em cima do móvel, e foi andando até o palco. Havia dois candelabros com velas gastas, Os candelabros eram de ferro.

Ela andou mais um pouco e acendeu as duas velas.
Agora dava para  ver as cadeiras almofadadas da platéia...
Quantas pessoas magestosas deveriam ter sentado ali...

Ela sentou na beirada do palco sujo, e ficou pensando.
Então minha mãe era uma estrela naquela época, brilhava nos palcos...
E era aqui, que eu ficava com ela, enquanto ela contracenava...

Ela pegou os candelabros e foi andando no meio das cadeiras lindas da platéia. Passou um rato rápido, perto dos seus pés.

Ela demorou anos para conhecer esse lugar tão importante que havia sido para sua mãe e agora ela foi conhecer...
Ela, após a morte de sua mãe, foi morar na Europa com sua avó. Depois sua avó morreu e ela começou  a pensar em voltar para o Brasil.

Havia casado com um diplomata, ele faleceu. Eles não tiveram filhos.

Ela, agora estava de volta, com as lembranças de sua mãe, sua infância, com seu pai a levando a escola, antes de ir para seu escritório de advogacia.
Depois, fez faculdade de Artes Cênicas, e  agora estava pensando fazer uma reforma no teatro de sua mãe.Havia acabado de chegar da Europa, colocou suas bagagens na casa que era de seus pais, onde havia sempre duas governantas, que eram trocadas se uma falecia,  e não esperou o dia clarear, estava com muita vontade de ir até lá.

Havia pego um táxi, e o teatro era na Cinelândia. Vovó que cuidava do teatro, enquanto viva enviava dinheiro para uma das governantas pagarem as despesas que ele dava com impostos.

Passou perto de uma das cadeiras e foi impelida a sentar-se em uma delas. Colocou o candelabro no chão, e ficou olhando a pouca claridade que tinha no local.

De repente, pisou em alguma coisa. Era um envelope amarelado pelo tempo, lacrado.
Ela segurou o envelope e sentiu um calafrio no corpo. Não havia nada escrito fora do envelope.

Ela teria o direto de abri-lo, após tantos anos, ali no chão envelhecendo com os anos?

Nao suportando a curiosidade, abriu-o. Havia uma carta amarelada, porém nítida para ler.
Ela então começou a ler:

Meu querido Carlos

Não suporto mais viver sem a sua presença. Não quero perder minha filha, ela precisa de uma família. Eu e João somos tudo para ela.
Clara, era um sonho que eu tinha, essa filha é tudo para mim. Tente me entender, te digo Adeus.
Mas também deixarei um Adeus para meu marido e para Clara, o pai conseguirá dar muito carinho a ela.
Mas não suportarei viver sem o seu amor.
Daqui, seguirei para um destino eterno.
Perdoe-me.

                          Frederica.

Clara, foi dobrando a carta, colocando no envelope, então entendeu a morte de sua mãe.
Ela se suicidou com um tiro na cabeça, e seu pai foi acusado  de matá-la, ficou preso, até morrer na prisão de pneumonia.
E sua avó levou-a para Europa, para tira-la daquelas lembranças...
Coitado de papai... Pagou por um crime não cometido, a polícia  não acreditou nele.

Chamamos de sincronicidade um caso como o de Clara...Ela nunca imaginou, que sua mãe havia deixado essa carta. E que ela seria enviada aquele lugar, logo que chegou de viagem.
Sua mãe queria mostrar isso  para ela...para mostrar que seu pai era inocente, por isso ela foi impelida a ir até lá...por sua mãe.
Sua mãe não imaginava que ela iria embora com sua avó para o exterior... e que só iria ler anos mais tarde...

Saiu dali, pegou um táxi entrou em sua casa, e falou para as governantas:
-Amanhã me acordem  cedo, preciso tratar do teatro da mamãe. Quero reabri-lo.
Boa noite.


Autora:
 Ane 2013
















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